Archive for Junho, 2011

O Natal no Verão

Pensávamos que tínhamos batido no fundo?!

Não … ainda pode ser pior.


Abro Páginas Encontro Espelhos


Canícula

Associo sempre as ondas de calor a grandes tragédias, assassinatos, mortes, devastação. Uma espécie de inebriamento, como se as energias se evadissem de si  próprias e alcançassem outras esferas do sentir.


Just feel it


Viajar

Foto: Hugo Gomes

Viajar é uma forma de fazer alguma coisa pela primeira vez com alguém, e o Amor está sempre a pedir primeiras vezes. É que sendo a primeira vez que se está num sítio com alguém, esse sítio passa a ser dos dois. Só.
Os sítios que visitamos têm essa capacidade de marcar um Amor como se marca um animal com um ferro em brasa. Para sempre. É por isso que quando se regressa a um local onde já se foi feliz com alguém, é mais desse alguém que nos lembramos do que do local em si.

Bagaço Amarelo

So little time so much to do


Amorous protestors, lost in the heat of Vancouver riots

(The story behind)


Summertime

 


Parabéns

Parabéns Sérgio, que faças muitos, muitos anos mas sobretudo, que sejas muito feliz.


This is the mood

Perdi todos os ficheiros de uma pen.


Failure

Ever tried? Ever failed? No matter.

Try again. Fail again. FAIL BETTER!

(Samuel Beckett)


Eclipse da lua

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Exterminador Implacável

Radar Saudade - Maia


Todo o Presente Espera pelo Passado para nos Comover

Foto - Mário Domingues

Há vária gente que não gosta de evocar o passado. Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro. Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação. Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser. O presente é cheio de urgências mas ele que espere. Ha tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz. Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão. Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem…

Vergílio Ferreira, in ‘Conta-Corrente 5’


Nuances

Um homem de meia-idade, de mão dada a uma mulher, grita com entusiasmo ‘We love each other’. O anúncio ecoa pelo jardim e interrompe o sossego primaveril. Algumas pessoas olham e, dessas, são poucas as que sorriem. A mulher, de olhos no chão, reprova a exaltação com um aceno de cabeça. Ela sabe que o que ele fez não foi afirmar publicamente o seu amor por ela mas sim informar publicamente o amor de um pelo outro. A diferença incomoda-a. Preferiria certamente o contrário.

vontade indómita

Viva Portugal

Quem me conquista apaixonado
em noites ébrias de boémia
quem me dá todas as doçuras
na erudição da fêmea
quem me seduz bem quer e trama
um amante e mais um drama
quem me afaga o peito mourisco
e depois chama-me um petisco
conspira paixões e amores
na má vida dos cantores

quem me segura a perna tonta
e brinca com o pézinho fixe
quem me abraça o corpo excitado
e o peróneo que se lixe
quem me amansa com doces beijos
altas febres e desejos
quem num abraço singular
ai faz um ateu levitar
segreda recados de amor
na má vida dos cantores

quem se aproxima sedutora
pisca os olhos manda bocas
diz obscenas maravilhas
ainda faz outras mais loucas
que me dá toques de judoca
a alma pula em cambalhota
o coração a pedir mais
ai dá quatro saltos mortais
inspira os tais casos de amor
na má vida dos cantores

quem me enche o copo de vício
das cirroses imorais
do hepático-esquecimento
em bebedeiras siderais
quem me alivia na ressaca
nesta dor que corta à faca
por tudo aquilo que eu vi
delicadamente p’ra ti
dedico esta canção de amor
com cheirinhos a mil flores
e se acaso restam compassos
muitos beijos e abraços.

Fausto


Trigonometria

A fotografia é sempre um ménage à trois: o fotógrafo, o modelo e o espectador da fotografia – mesmo que o fotógrafo seja o modelo ou o espectador.


True colours

You with the sad eyes
don’t be discouraged
oh I realize
it’s hard to take courage
in a world full of people
you can lose sight of it all
and the darkness inside you
can make you fell so small

(…)

Show me a smile then
don’t be unhappy, can’t remember
when I last saw you laughing
if this world makes you crazy
and you’ve taken all you can bear
you call me up
because you know I’ll be there


Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas.

António Lobo Antunes

Último dia de Campanha

Cântico Negro

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: “vem por aqui!”

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:

Criar desumanidades!

Não acompanhar ninguém.

— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí…

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?…

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tetos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…

Eu tenho a minha Loucura !

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: “vem por aqui”!

A minha vida é um vendaval que se soltou,

É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou…

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!

JOSÉ RÉGIO